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Sobra política, falta emoção

As últimas pesquisas sobre a disputa presidencial trouxeram números que seriam motivo de comemoração por qualquer candidatura oposicionista. Como se sabe, um candidato de oposição só leva vantagem se o desejo do eleitorado for de mudança. Quatro institutos divulgaram números que refletem, em grande parte, esse desejo quanto a próxima gestão do governo federal. Variando entre quarenta e sessenta por cento, a taxa atual dos que querem “mudança”, seja ela total ou parcial, demonstra o amplo espaço que um candidato de oposição teria para desenvolver seu discurso.

Ao contrário de 2010, quando a maioria optou por quem mantivesse as conquistas sociais do governo Lula, em 2014 o sentimento é outro. Contudo, as pesquisas mostram que esses eleitores não sabem a quem recorrer para mudar. Os levantamentos indicam que a presidente Dilma Roussef teria, hoje, votação suficiente para vencer com folga seus adversários. A aparente contradição evidencia a dificuldade dos candidatos de oposição em sensibilizar a fatia estratégica do eleitorado que anseia por alterações na condução dos rumos do país.

O eleitor não é bobo, ele simplesmente não enxerga quem assuma sua demanda. Tanto Aécio Neves, como Eduardo Campos e Marina Silva, têm falhado na apresentação como alternativas convincentes para o eleitorado. Aliado ao baixo grau de conhecimento público, especialmente dos dois primeiros, os candidatos opositores não despertam emoção refletida em projetos de mudança. A distância entre o que comunicam e o que interessa ao cidadão comum é de tal ponto, como se carregassem em suas bandeiras a inscrição “nada a declarar”, e, abaixo em letras minúsculas: “que você consiga entender”. Um posicionamento que, de tão frágil, não é traduzido como alternativa de mudança.

Por outro lado, apenas remar contra a corrente, sem apontar caminhos, não anima o eleitorado. Faltam propostas à crítica do cotidiano que empolgue o mais simples dos eleitores, que possam não apenas resultar em votos, mas levar o país a dar um salto na ambição de seu tamanho e necessidade. Um conjunto de idéias que seja facilmente entendido, apresentado sob a forma de mensagens desprovidas de interpretação acessória. Não basta conteúdo, é preciso ter contundência na forma para atingir o homem simples, que é fortemente influenciado por sentimentos e muito pouco por raciocínios.

Ao eleitor não interessa disputas internas do “rame-rame” político, mas sim o quanto os candidatos são capazes de enxergar as dificuldades do seu dia-a-dia, e quais as soluções que propõem para esses problemas. De nada adianta o desejo da mudança se não há uma oposição competente o suficiente para apontar um cenário de futuro melhor que a atual presidente tem sido capaz de indicar nos últimos tempos. Sua reeleição, em grande medida, depende da performance de seus adversários. Até aqui, a vantagem é por eliminação da concorrência.

 Por Leandro Grôppo

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